A Vulnerabilidade na Liderança
Todos os seres humanos são intrinsecamente vulneráveis, capazes de experimentar dor, medo e sofrimento. No entanto, esconde-se muitas vezes essa vulnerabilidade para se parecer mais forte e evitar possíveis ataques ou rejeição.
A liderança é tradicionalmente associada a características como força, confiança e resiliência. Isto leva a que os líderes queiram esconder as suas dúvidas, receios e fragilidades, como se o acto de mostrar emoções pudesse reduzir a sua autoridade e respeito. Contudo, este tipo de liderança baseada na imagem de perfeição e invulnerabilidade cria uma barreira entre o líder e a sua equipa, distanciando-o emocionalmente e, muitas vezes, isolando-o.
Os líderes são frequentemente vistos como figuras invulneráveis, que não vacilam perante os desafios e que, apesar de sentirem medo, conseguem superá-lo sem mostrar fragilidade.
Gostaria de explorar então, a importância de integrar a vulnerabilidade na liderança, desmistificando a ideia de que ela representa fraqueza e destacando o potencial transformador que esta pode ter tanto para o líder como para aqueles que lidera.
Culturalmente somos impelidos a demonstrar uma invulnerabilidade, a valorizar a figura do líder como um herói, alguém que supera obstáculos sem mostrar emoções, sugerindo que a sobrevivência depende de projetar uma imagem forte e inquebrantável. Por isso mesmo, a vulnerabilidade aparece muitas vezes associada à fraqueza.
No ambiente profissional, entende-se demasiadas vezes que esta vulnerabilidade, entendida como fraqueza, pode ser aproveitada pelos outros e por isso termos de mostrar uma atitude autoritária para estabelecer limites e evitar abusos. Daqui surgem as contradições internas, porque, se por um lado, entendemos que seria favorável aceitar e mostrar a nossa vulnerabilidade como um caminho para uma vida mais autêntica e significativa, no entanto, protegermo-nos do sofrimento, ter maior segurança leva-nos a esconder e guardarmo-nos dessa mesma vulnerabilidade. A verdade é que embora proteger-nos possa ajudar-nos a sobreviver, para que possamos viver genuinamente e ligarmo-nos aos outros, é preciso que aceitemos a nossa vulnerabilidade. Ser vulnerável, ter uma liderança com toda a vulnerabilidade aceite, permite a partilha da nossa humanidade comum, desperta a nossa compaixão, a confiança e o apoio mútuo.
Vale a pena pensar que negar a vulnerabilidade nos afasta dos outros, que ao construirmos uma fachada invulnerável, isolamo-nos e desconectamo-nos tanto das nossas emoções como dos outros. Pode ser que ao contrário do que imaginamos seja esta rejeição que nos afasta do nosso verdadeiro “eu” e nos faz sofrer.
A Vulnerabilidade como Força.
Podemos então pensar que ao contrário do que nos dizem ou das crenças que fabricamos, possamos, em vez de ver a vulnerabilidade como uma fraqueza, a reconheçamos e a aceitemos como um ato de coragem. É a vulnerabilidade que nos pode permitir enfrentar os nossos desafios, desenvolver o nosso autoconhecimento e compreender as nossas limitações e forças, e assim enfrentar e viver o papel de líder com maior segurança e estima.
A nossa viagem do autoconhecimento, é também a viagem que nos permite alimentar a nossa vulnerabilidade e o crescimento através dos desafios, ou seja: a vulnerabilidade não é o oposto da força, mas sim uma qualidade que nos permite ser plenamente humanos. Em contexto da liderança, deixa-nos ser mais competentes, alguém que enfrenta e entende os seus medos e emoções, que constrói um ambiente de segurança e verdade para si e para a sua equipa. A vulnerabilidade torna-nos mais fortes, promove as interações e o desenvolvimento de forma autêntica e sólida. Um líder que evita a sua vulnerabilidade acaba por perder uma importante oportunidade de empatia e de desenvolvimento pessoal e coletivo.
Longe de ser um sinal de fraqueza, a vulnerabilidade na liderança pode ser uma fonte de força. Quando um líder é capaz de admitir que não sabe todas as respostas, que também sente medo ou que comete erros, abre caminho para uma cultura organizacional baseada na confiança, na empatia e na cooperação, dá o exemplo, mostrando que é possível falhar e aprender com os erros, promovendo um ambiente onde cada um se sente seguro para experimentar, arriscar e crescer.
Um líder vulnerável não abdica da sua competência ou da sua resiliência. Pelo contrário, ao aceitar a sua vulnerabilidade, demonstra coragem e autenticidade, valores que inspiram e fortalecem as relações. A vulnerabilidade, portanto, não é o oposto da competência, mas sim a base de uma liderança mais humana e eficaz. Através dela, os líderes tornam-se mais acessíveis e próximos, criando um espaço onde os outros também se sentem à vontade para serem autênticos e colaborativos.
A verdadeira liderança vulnerável é aquela que assume a responsabilidade pelas próprias emoções e age com compaixão e clareza, tanto para consigo como para com os outros.
Um líder que assume as suas fragilidades, que é transparente sobre os seus desafios e que se permite sentir e expressar emoções genuínas está a liderar com o coração. Esta abertura não só cria um vínculo de confiança com a equipa, como encoraja cada um a explorar e a aceitar a sua própria vulnerabilidade. Ao perceber que o seu líder também é humano e imperfeito, a equipa sente-se mais segura para partilhar os seus medos e desafios, fortalecendo o sentido de pertença e de apoio mútuo.
Conclusão
A liderança vulnerável não é sinónimo de fraqueza, antes, uma expressão de coragem, autenticidade e força. Um líder que se permite ser vulnerável cria um ambiente de confiança e conexão, promovendo uma cultura de crescimento, respeito e empatia.
Assim, a vulnerabilidade constrói o fundamento de uma liderança mais consciente e transformadora.
Ao aceitar a minha vulnerabilidade, inspiro outros a serem autênticos e corajosos, tornando-me, agente de uma mudança positiva e duradoura, tornando a liderança um exercício de influência de verdade e desenvolvimento da confiança e autenticidade na relação da equipa.